segunda-feira, 13 de abril de 2015

Brinde ao basquete

Por Renata José

Torcida no "caldeirão" Hugo Ramos / Foto: Luiz Pires-LNB
A animação da multidão me animou também. Parecia um choque elétrico que passava de pessoa em pessoa que faziam fila nas bilheterias do ginásio da cidade, para gastar seus dez reais do sorvete em uma partida de basquete.

Meus olhos aguçados em tudo faziam questão de registrar os detalhes daquilo que nunca viram antes. O cheiro marcante de infância e mãe habitavam um local nunca antes visitado por mim. Passou-me pela memória os dias frios em que, ainda criança, podia ficar no sofá com minhas cobertas assistindo à sessão da tarde, ou então, os sete monstrinhos na TV Cultura. Como um prêmio pelo grande esforço de ficar quieta na sala de estar, minha mãe me presenteava com um pote de pipoca. O cheiro inundava a casa. Assim como inundava agora o ginásio.

Os urros de animação e devoção ao time da cidade eram escutados por todos os lados. Logo, todos entraram e encontraram um local para se sentarem nas arquibancadas. Aqueles com camisetas e acessórios, a tal da torcida organizada, se postaram nas primeiras cadeiras gritando “vivas” ao time.

O jogo começou com a equipe da casa saindo em frente no placar, mas o jogo não me fazia lógica e eu gritava: “É falta! É falta!”, e alguém paciente dizia: “Não, não é.”. A ignorância das regras não me impedia de pular com as cestas feitas pelos jogadores que vestiam azul e branco, cores que fui orientada, antes, serem do time para o qual eu deveria torcer.

Os ambulantes estavam lá também, todos carregando mercadorias em seus braços. Era água de ouro, churros de diamantes e pipocas com queijinhos contados, que custavam mais que refeições completas. É claro que, apesar da hipérbole, os vendedores não deixariam de tirar seus lucros.

Era uma algazarra, e eu ali no meio, perdida em cestas de 1, 2 e 3 pontos. Crianças correndo de um lado para o outro, subindo e descendo escadas. Adolescentes que pareciam estar lá apenas para ser um local de encontro com seus colegas e intenções amorosas. Ambulantes que estavam desesperados para ganhar seu “ganha pão”. E havia alguns poucos concentrados demais em cada passada dos jogadores para notar toda a movimentação ao redor e aqueles, que como eu, que notavam tudo.

Com toda a bagunça, me pareceria irreal o motivo exato de todos se reunirem naquele grande prédio oval. Mas bastou um lindo passe com uma cesta bem feita e todos, os concentrados, os desconcentrados, as crianças, os ambulantes, os adolescentes afogueados, a torcida organizada e eu, nos tornamos uma só massa em comemoração.


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