Por Renata José
Torcida no "caldeirão" Hugo Ramos / Foto: Luiz Pires-LNB |
A animação da multidão me animou também. Parecia um choque
elétrico que passava de pessoa em pessoa que faziam fila nas bilheterias do
ginásio da cidade, para gastar seus dez reais do sorvete em uma partida de
basquete.
Meus olhos aguçados em tudo faziam questão de registrar os
detalhes daquilo que nunca viram antes. O cheiro marcante de infância e mãe
habitavam um local nunca antes visitado por mim. Passou-me pela memória os dias
frios em que, ainda criança, podia ficar no sofá com minhas cobertas assistindo
à sessão da tarde, ou então, os sete monstrinhos na TV Cultura. Como um prêmio
pelo grande esforço de ficar quieta na sala de estar, minha mãe me presenteava
com um pote de pipoca. O cheiro inundava a casa. Assim como inundava agora o
ginásio.
Os urros de animação e devoção ao time da cidade eram
escutados por todos os lados. Logo, todos entraram e encontraram um local para
se sentarem nas arquibancadas. Aqueles com camisetas e acessórios, a tal da
torcida organizada, se postaram nas primeiras cadeiras gritando “vivas” ao
time.
O jogo começou com a equipe da casa saindo em frente no
placar, mas o jogo não me fazia lógica e eu gritava: “É falta! É falta!”, e
alguém paciente dizia: “Não, não é.”. A ignorância das regras não me impedia de
pular com as cestas feitas pelos jogadores que vestiam azul e branco, cores que
fui orientada, antes, serem do time para o qual eu deveria torcer.
Os ambulantes estavam lá também, todos carregando
mercadorias em seus braços. Era água de ouro, churros de diamantes e pipocas
com queijinhos contados, que custavam mais que refeições completas. É claro que,
apesar da hipérbole, os vendedores não deixariam de tirar seus lucros.
Era uma algazarra, e eu ali no meio, perdida em cestas de 1,
2 e 3 pontos. Crianças correndo de um lado para o outro, subindo e descendo
escadas. Adolescentes que pareciam estar lá apenas para ser um local de
encontro com seus colegas e intenções amorosas. Ambulantes que estavam
desesperados para ganhar seu “ganha pão”. E havia alguns poucos concentrados
demais em cada passada dos jogadores para notar toda a movimentação ao redor e
aqueles, que como eu, que notavam tudo.
Com toda a bagunça, me pareceria irreal o motivo exato de
todos se reunirem naquele grande prédio oval. Mas bastou um lindo passe com uma
cesta bem feita e todos, os concentrados, os desconcentrados, as crianças, os
ambulantes, os adolescentes afogueados, a torcida organizada e eu, nos tornamos
uma só massa em comemoração.
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